Crônicas

Olhando para o passado (Crônica)


By Liège Vaz

Sentada junto a janela da sala de jantar, uma mulher idosa observava o mundo através da janela. Os anos haviam passado rápido, deixando suas marcas em seus cabelos brancos, e nas rugas profundas de seu rosto. Ali, em silêncio, ela contemplava a vida lá fora, um espetáculo cotidiano que, paradoxalmente, parecia sempre novo e sempre o mesmo.

A outono enfeitava as árvores com flores coloridas, os pássaros cantavam suas canções matinais e as crianças brincavam nos quintais. Para ela, cada cena era um fragmento de uma memória distante, como se o tempo, em um gesto de gentileza, trouxesse de volta momentos preciosos de um passado que já não era mais palpável, mas que ainda aquecia o coração.

Enquanto seus olhos acompanhavam o balé das folhas ao vento, sua mente vagava pelos caminhos da saudade. Lembrava-se das risadas à mesa, dos almoços em família, das histórias contadas ao cair da tarde. Sentia a presença daqueles que já se foram, mas que nunca deixaram de existir em suas lembranças. Da mãe, com quem compartilhou tantas jornadas, avós, tios , primos, e os filhos, agora crescidos e com suas próprias vidas, estavam todos ali, invisíveis, mas presentes.

Em meio ao silêncio de sua solidão, refletia sobre o que fizera da vida. Havia escolhas que a orgulhavam, momentos que desejaria reviver e arrependimentos que, vez ou outra, a assombravam. Mas, havia também uma aceitação serena de que cada passo, cada decisão, a moldara na mulher que era hoje. A idade lhe trouxera não apenas fragilidade, mas também uma sabedoria tranquila, uma compreensão profunda daquilo que realmente importava.

O mundo lá fora continuava a girar, indiferente ao passar do tempo. E ela, de sua janela, continuava a observá-lo. Era um ritual diário, uma conexão entre o passado e o presente, um lembrete de que, apesar das mudanças, a essência da vida permanecia. O peito, ainda tocado pelas antigas canções, relembrava que a saudade era um caminho de volta para si mesma, uma ponte entre o que foi e o que ainda poderia ser.

Assim, a mulher idosa continuava a olhar o mundo lá fora, encontrando, na quietude de seus pensamentos, respostas silenciosas para as perguntas que o tempo insistia em fazer.

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Olinda(PE) BRA 18/05/2024

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